sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O homem que ficou com o casaco

Ela tinha a companhia dele nas noites turvas. Costumavam conversar enquanto a poeirinha de frio subia pelas pernas no ritmo de cada passo dado. Subentendido nas palavras, estava, para assim dizer, o esquecimento dele: ele tinha o casaco, ela não. Um esquecimento digno de um homem frio. O balanço do queixo e o arrepio na nuca de quem revelava a precisão de, mesmo estando ali, ir embora e, ainda assim, insistir em cada palavra ouvida. Ele não podia negar que mais frio ainda estava o frio na barriga. O frio de quem ama e não viola-se. Trema, homem, mas não tema! O amor é cálido de mais para se abafar num tecido de lã. (...)

Um comentário:

miradores comentaram