terça-feira, 9 de agosto de 2011

Café-com-leite

O decesso não era uma opção. Pelo menos não efetivamente, mas só quando a vontade circulava nessas brandas iras. Talvez justificasse o medo de ser levada na hora de dormir: só pegava no sono com o papo pra cima, em supino, e com os dedos entrelaçados sobre o peito. Pra enganar a Morte, cruzava as pernas e disfarçava a posição de defunto. Por vezes, arriscava ser mais esperta e posicionava paralelamente os joelhos, mas tratava de manter os olhos fechados profundamente atentos a qualquer mudança de luz. Ao lembrar-se da sua desvantagem, se perdia dessa disputa com um homem que lhe fazia manter os olhos grelados, que lhe martelava as lembranças e a fazia fantasiar os devires bem na hora de sossegar. Ele, coitado, nem sabia que era posto nessa rixa, era um café-com-leite. Ora pensava Nela, ora pensava nele, mas não agia. Em retrocesso, não pôs mais nenhuma vontade viril afim de fazê-la sentir-se viva. Quando, enfim, achou... já tinha perdido a jogatina. Era um a zero pra Ela: com direito a travesseiro salpicado e uma faca engatada à fúrcula.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

miradores comentaram